Faltam médicos e estímulo para atrair profissionais aos hospitais públicos. Os procedimentos estão mal-remunerados. Os especialistas reclamam que a tabela do Sistema Único de Saúde (SUS) é irreal.
O Ministério da Saúde promete rever essa tabela. O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, promete aumentar em etapas o valor pago aos profissionais em um prazo de três anos.
Especialistas sabem, no entanto, que a tabela do SUS está longe de acompanhar os preços de mercado. Quando alguém precisa de atendimento, o hospital conveniado – não importa se é do estado ou do município – manda a conta para o governo federal.
Todo ano, são feitas pelo SUS mais de três milhões de cirurgias, 300 milhões de consultas, 15 mil transplantes e mais de dois milhões de partos. O Sistema Único de Saúde atende quem não tem plano privado – e quem tem também, principalmente àqueles que precisam de tratamentos como hemodiálise, transplante e remédios para aids.
A tabela do SUS é a referência para o pagamento de mais de nove mil procedimentos realizados em hospitais federais, estaduais e municipais. Os médicos reclamam que os valores dessa tabela estão defasados: de 30% a 40% abaixo da média do mercado.
“É um valor muito baixo. Hoje, para se ter uma idéia, um médico, para fazer uma cirurgia de hérnia, recebe em torno de R$ 40. Ele opera o paciente, acompanha no pós-operatório e com toda a responsabilidade para receber depois de 60 ou 90 dias”, conta o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, Tarcísio Dias.
O Ministério da Saúde informa que o último reajuste geral da tabela foi de 25%, há mais de dez anos. O SUS paga por um parto R$ 317. Um ultra-som de gestante custa R$ 12,40; uma consulta com um clínico geral, R$ 7.50.
“Cada ano que passa, os custos com a saúde aumentam brutalmente. Cada medicamento novo que entra no mercado custa muito caro. Cada equipamento novo, cada exame que se faz, tudo isso gera um aumento bastante importante no custo que o sistema público tem para o atendemento às pessoas”, aponta o secretário adjunto de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, João Gabbardo.
“O grande desafio do setor de saúde hoje é exatamente esse: como a gente dá acesso às pessoas, já que a medicina evoluiu, já que a tecnologia evoluiu e isso dá mais qualidade de tratamento e de acesso à saúde, mas como é que a gente viabiliza isso do ponto de vista financeiro, uma vez que esse custo alguém tem que pagar?”, questiona a consultora Laís Perazo.
Com os R$ 2 bilhões que vão ser liberados pelo governo para a área da saúde, os valores de alguns procedimentos, como partos e exames de ultra-som, vão ser reajustados. Mas, de acordo com o ministro da Saúde, José Gomes Temporão (foto), para atualizar a tabela, ou pelo menos parte dela, seria preciso muito mais dinheiro.

“A proposta é que, nos próximos três anos, dentro do plano que eu vou apresentar ao presidente Lula, nós tenhamos uma estratégia de recuperação gradual da tabela do SUS”, afirma o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.
O economista Raul Velloso diz que, mesmo com mais dinheiro, é preciso administrar melhor os hospitais públicos.
“Quando você coloca mais dinheiro, sempre vai ter um lugar para gastar. Enquanto isso, se não houver uma transformação, uma revolução na gestão, o usuário vai estar mal servido no Brasil”, acredita o economista Raul Velloso.
Os secretários de Saúde dos estados do Nordeste se reuniram e devem encaminhar reivindicações ao ministro Temporão, que recebe hoje governadores da região Nordeste. O Ministério da Saúde ainda não decidiu como vai gastar os R$ 2 bilhões que serão desbloqueados, mas sinalizou que haverá um aumento dos repasses aos estados.